terça-feira, 9 de julho de 2013

Rabiscos no salão



Seus pés desenhavam uma linha tênue no salão com uma má iluminação. Seus olhos fechados olhavam para o nada, seus cabelos soltos acompanhavam a inércia dos giros e cortes feitos ao som da música suave que tocava... O abraço apertado em seu parceiro, a intimidade surreal criada por exatos minutos. E enquanto enlaçava sua pernas e com inimaginável sutileza e agilidade seguia a condução com tamanha facilidade e graciosidade, os olhos dos homens sozinhos, e também os acompanhados, seguiam o rastro de seus pés esperando e ansiando um olhar... Um olhar daqueles lindos olhos negros e profundos, reflexos de um passado com certo segredo que seus inúmeros parceiros de vidas passadas nunca souberam. Dentre todos os homens, um olhava fixamente para seus pés ágeis... Ouvia “Por una cabeza”, um velho tango conhecido. E via a mescla de criatividade, sensualidade e lucidez que aquele casal ia dançando. Iam dançando numa perfeita sincronia, num ritmo lento, cheio de cortes e volcadas de perfeita execução.

A música acabara. Seus olhos se abriram, revelando os profundos negros e misteriosos segredos. Olhara para o cavalheiro que a acompanhara nesta viagem, agradecera com um sorriso cortês. Seguiu em direção ao bar, em direção aos mesmos olhos castanhos que lhe olhava com tamanha admiração. Seu olhar negro, frio e sensual, se encontrou com os olhos castanhos, misteriosos e admirados. Um sorriso em comum se abrira.
O próximo tango começou. Uma adaptação da tão aclamada música “Enjoy the Silence”. Um tango cheio de histórias, cheio de segredos...
Ela, com os olhos, o convidou para a pista de dança.
Ele, num turbilhão de sentimentos e pensamentos, aceitou sem hesitar.
Num encaixe perfeito, se abraçaram.
Aquele perfume... Ele lutou para se conter e conseguir dançar... Seu corpo todo tremia por dentro. Um perfume doce e provocante. Foi então que começaram...
Seus passos eram habilidosos e beiravam a perfeição. A conexão entre os dois era esplêndida... Nenhum dos dois ousou fechar os olhos. Os dois, em perfeita harmonia, se movimentavam, ou como ele preferia, deslizavam pelo salão vazio...
A música acabara.
- Muito prazer... – disse com sua voz suave.

Marcus James


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